Durante muito tempo, falar em saúde mental era um tabu na sociedade, e se fosse no ambiente de trabalho era mais difícil ainda abordar a realidade. Com as mudanças sociais e no mercado de trabalho, falar de bem-estar emocional se tornou indispensável.
A rotina, o estresse e até os hábitos alimentares influenciam a saúde mental, o que impacta em todas as áreas da vida do ser humano, desencadeando transtornos mentais que precisam de intervenção médica e social.
Na população moderna, os principais transtornos entre crianças, jovens e adultos são a depressão e a ansiedade. Em outras faixas etárias pode haver maior incidência de Transtorno Compulsivo Obsessivo – TOC – estresse pós-traumático, bipolaridade, doenças psicossomáticas e até dependência química.
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ToggleO panorama da saúde mental no trabalho: dados e impactos
Para compreender a urgência do tema, é fundamental olhar para os dados. O Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no mundo, afetando 9,3% da população. Uma pesquisa de 2024 revelou que 86% dos trabalhadores brasileiros já enfrentaram problemas de saúde mental ligados ao trabalho.
O impacto é visível e mensurável. Em 2023, os afastamentos por transtornos mentais cresceram 38% , e em 2024, esse número continuou a subir, com um aumento de 67% nos afastamentos em relação ao ano anterior, segundo o Ministério da Previdência Social. Globalmente, a perda de produtividade associada à depressão e ansiedade custa à economia cerca de US$ 1 trilhão anualmente.
Bem-estar emocional e trabalho
Muitos trabalhadores têm receio de falar sobre transtornos mentais no trabalho devido ao preconceito social que ainda impera sobre o assunto, talvez porque ainda exista uma associação equivocada com deficiências mentais que são casos mais severos. O que acaba impedindo que empresas detectem e invistam em prevenção de adoecimentos mentais decorrentes do trabalho.
O que deve ser abordado pelos responsáveis pela saúde ocupacional e segurança do trabalho como parte das ações para promoção de um ambiente ocupacional saudável.
Além da ansiedade e depressão: a realidade da Síndrome de Burnout
Além dos transtornos mais conhecidos, a Síndrome de Burnout ganhou destaque por sua ligação direta com o ambiente profissional. Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID), o Burnout é definido como uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Seus principais sintomas são:
- Sentimentos de exaustão ou esgotamento de energia;
- Aumento do distanciamento mental do próprio trabalho, com sentimentos de negativismo ou cinismo;
- Redução da eficácia profissional.
O papel da empresa: da responsabilidade legal à cultura de bem-estar
A responsabilidade pela saúde mental no trabalho não é apenas uma questão de boas práticas, mas também de conformidade legal e estratégia de negócio.
A nova realidade legal: entendendo a NR-1 e a lei 14.831/2024
O cenário legal brasileiro evoluiu significativamente. A partir de 2025, a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) exige que todas as empresas brasileiras incluam a avaliação de riscos psicossociais (como estresse, assédio e sobrecarga) em sua gestão de Segurança e Saúde no Trabalho (SST).
Adicionalmente, a Lei nº 14.831/2024, sancionada em março de 2024, instituiu o “Certificado Empresa Promotora da Saúde Mental”. Este certificado, concedido pelo governo federal, reconhece formalmente as organizações que implementam políticas eficazes de promoção do bem-estar, como oferecer acesso a apoio psicológico, capacitar lideranças e combater a discriminação.
O papel estratégico da liderança
A liderança tem um impacto direto e profundo na saúde mental das equipes. Uma pesquisa revelou que os gestores impactam mais a saúde mental dos colaboradores (69%) do que médicos ou terapeutas (41%), com uma influência equivalente à de um cônjuge. Líderes autoritários e um clima organizacional tóxico são fatores que aumentam o estresse e a probabilidade de desenvolvimento de transtornos. Portanto, capacitar líderes para uma gestão humanizada, empática e que saiba reconhecer sinais de esgotamento é um pilar fundamental.
Construindo a segurança psicológica: o guia prático
Um conceito central para um ambiente saudável é a segurança psicológica. Trata-se de um clima onde os colaboradores se sentem seguros para expressar opiniões, fazer perguntas, admitir erros e propor ideias sem medo de punição ou humilhação. Para construir esse ambiente, as empresas podem:
- Liderar pelo exemplo: Líderes que demonstram vulnerabilidade e admitem seus próprios erros criam um ambiente de confiança.
- Incentivar o feedback: Criar uma cultura onde o feedback é uma prática regular e construtiva, e não uma crítica punitiva.
- Promover a transparência: Compartilhar informações e ser transparente nos processos de tomada de decisão ajuda a construir um sentimento de pertencimento.
- Intervir quando necessário: Ter a coragem de intervir em situações de desrespeito ou assédio é crucial para mostrar que a segurança de todos é uma prioridade.
O retorno sobre o investimento (ROI) em saúde mental
Investir em saúde mental não é um custo, mas um investimento estratégico. Estudos demonstram que para cada dólar investido em programas de saúde mental, o retorno para a empresa pode ser de 4 a 7 dólares em aumento de produtividade e redução de custos. Empresas com ambientes emocionalmente equilibrados apresentam um turnover (rotatividade) até 4 vezes menor.
Como promover a saúde mental: estratégias práticas
Para as empresas:
- Promover a conscientização: Incluam o tema no DDS (Diálogo Diário de Segurança) e promovam palestras e campanhas internas, como o Janeiro Branco e o Setembro Amarelo, para naturalizar a conversa sobre saúde mental;
- Desenvolver programas de apoio: A figura do psicólogo na empresa é essencial. Ofereçam acesso a recursos de apoio, como terapia online ou programas de acolhimento emocional, e criem canais de comunicação seguros para que os trabalhadores busquem ajuda;
- Capacitar as lideranças: Realizem treinamentos de alto impacto que aproximem os líderes do tema da saúde emocional, ensinando-os a reconhecer sintomas e a construir ambientes de confiança;
- Incentivar o equilíbrio: Adotem políticas de flexibilização de horários, pausas estratégicas e respeito ao direito de desconexão para reduzir o estresse e evitar a sobrecarga.
Para os colaboradores:
- Organizar sua rotina de trabalho: Liste suas tarefas diárias e estabeleça prioridades para evitar a sensação de sobrecarga;
- Conhecer e respeitar seus limites: Aprenda a dizer “não” quando necessário e não aceite mais tarefas do que consegue realizar. Evite fazer horas extras com frequência;
- Ter um sono de qualidade: Um sono reparador é fundamental para a recuperação física e mental, ajudando a reduzir os níveis de estresse;
- Praticar atividades físicas: Exercícios regulares liberam neurotransmissores como endorfina e serotonina, que promovem a sensação de bem-estar;
- Ter uma alimentação mais saudável livre de excesso de gordura.
- Fazer pausas durante o dia: Pequenos intervalos para um café ou uma caminhada ajudam a aliviar a tensão e a relaxar a mente;
- E ao menor sinal de que sua saúde mental não está bem, procure ajuda médica. Não hesite em buscar apoio profissional. Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo.
Perguntas Frequentes
1. Quais são os principais sinais de que um trabalhador pode estar com a saúde mental abalada?
Fique atento a mudanças de comportamento como isolamento social, irritabilidade, crises de choro, queda de motivação, aumento de erros, além de sintomas físicos como dores de cabeça constantes, insônia e cansaço extremo.
2. Como o trabalho remoto (home office) impacta a saúde mental?
O home office oferece flexibilidade, mas também pode levar ao isolamento social e à dificuldade de separar a vida pessoal da profissional, resultando em jornadas mais longas e estressantes. É crucial estabelecer limites claros e manter a conexão social com a equipe.
3. O que a empresa pode fazer para apoiar um funcionário que está passando por um problema de saúde mental?
A empresa deve oferecer um ambiente de escuta sem julgamentos, garantir acesso a programas de apoio psicológico, flexibilizar demandas quando possível e assegurar que o colaborador não sofrerá discriminação por buscar ajuda.
Dúvidas sobre prevenção de transtornos mentais no ambiente ocupacional, fale com a Premier Saúde Ocupacional.